18 de out. de 2010

Carta ao Journal de Genève (setembro, 1873)



CARTA AO “JOURNAL DE GENÈVE”*

Mikhail Bakunin

Aos Senhores Redatores do Jornal de Genebra

Senhores,

Não faz parte dos meus hábitos responder às injúrias e às calúnias dos jornais. Eu teria tido muito trabalho, realmente, se tivesse querido apurar todas as besteiras que, desde 1869, sobretudo, divertiram-se em debitar em minha conta.


Entre meus caluniadores mais furiosos, ao lado dos agentes do governo russo, eu situo naturalmente o Sr. Marx, o chefe dos comunistas alemães, que, sem dúvida por causa de seu tríplice caráter de comunista, alemão e judeu, me odiou, e que, dizendo nutrir igualmente um grande ódio contra o governo russo, em relação a mim pelo menos, nunca deixou de agir em plena harmonia com ele.

Para me sujar aos olhos do público, o Sr. Marx não somente recorreu aos órgãos de uma imprensa muito complacente, serviu-se também dos correspondentes íntimos, dos comitês, das conferências e dos próprios congressos da Internacional, não hesitando em fazer desta bela e grande Associação que ele tinha ajudado a fundar, um instrumento. de suas vinganças pessoais.

Hoje mesmo me anunciaram a publicação de uma brochura sob o título; “A Internacional e a Aliança”. É, segundo dizem, o relatório da comissão de inquérito nomeada pelo Congresso de Haia.

Quem não sabe que este Congresso não foi outra coisa senão uma falsificação marxista, e que esta comissão, na qual tinham assento dois delatores (Dentraygues e Van Heddeghem), tomou decisões que ela própria declarou ser incapaz de justificar, ao pedir ao Congresso um voto de confiança; o único membro honesto da comissão protestou energicamente contra essas conclusões, ao mesmo tempo odiosas e ridículas, num relatório de minoria.

Pouco satisfeito com a inépcia de seus agentes, o Sr. Marx teve o trabalho, ele próprio, de redigir um novo relatório que ele publica hoje com a sua assinatura e as de alguns de seus cúmplices.

Esta nova brochura, disseram-me, é uma denúncia formal, uma denúncia de policial, contra uma sociedade conhecida sob o nome de Aliança. Arrastado por seu ódio furioso, o Sr. Marx não temeu aplicar nele próprio uma bofetada, ao assumir publicamente o papel de um agente de polícia delator e caluniador. É sua responsabilidade, e como esta profissão lhe convém, que ele a exerça. E não é para lhe responder que eu farei exceção à lei de silêncio que me impuz.

Hoje, todavia, Senhores, creio dever fazer exceção para repelir mentiras, ou, para falar uma linguagem mais parlamentar, erros que deslizaram nas colunas de vosso jornal.

Em vosso número de 14 de setembro, que me foi impossível conseguir, vós havíeis reproduzido, disseram-me, a correspondência de um jornal de Paris, La Liberté ou o Journal des Débats, no qual um senhor anônimo afirma descaradamente ter-me escutado declarar, ou melhor, gabar-me de ter sido a causa de todas as convulsões revolucionárias que agitam a Espanha. É simplesmente estúpido! Seria o mesmo que dizer que eu causei todas essas tempestades que no decorrer deste ano assolaram o oceano e a terra.

De tanto caluniar, esses senhores acabarão por me deificar.

É preciso que eu vos assegure que jamais mantive tais propósitos? Estou certo de que jamais encontrei este senhor e o desafio a dar seu nome e a designar o dia e o local onde nos teríamos encontrado.

Mas vós próprios, Senhores, no número de 19 de setembro, de vosso jornal, vós me atribuístes escritos cuja publicação me é estranha.Assim também, permitir-me-ei endereçar-vos um pedido que vossa justiça não poderá negar. Na próxima vez, quando quiserdes me conceder a honra de vossos ataques, acusai-me apenas pelos escritos que são assinados por mim.

Eu vos confesso que tudo isso me enojou profundamente da vida pública. Estou farto de tudo isso. Após ter passado toda minha vida na luta, estou cansado. Já passei dos sessenta anos, e uma doença no coração, que piora com a idade, torna minha existência cada vez mais difícil. Que outros mais jovens ponham-se ao trabalho. Quanto a mim, não sinto mais a força, nem talvez a confiança necessária para empurrar por mais tempo a pedra de Sysipho contra a reação triunfante em todos os lugares. Retiro-me, pois, da liça, e peço a meus caros contemporâneos apenas uma coisa: o esquecimento.

De agora em diante não atrapalharei o repouso de mais ninguém; que me deixem, por minha vez, tranqüilo.
Acreditei muito em vossa justiça, Senhores, ao esperar que vós não recusaríeis a publicação desta carta?

*25 de setembro de 1873. Journal de Genève.

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