BAKUNIN, Michael Alexandrovich. Textos Anarquistas (Coleção L&PM Pocket). Seleção e notas: Daniel Guerín. Tradução: Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 1999. Págs. 12-39.
Depois de sua curta passagem por Paris durante a Revolução de 1848, Bakunin, eletrizado pelo exemplo que teve diante de si, foi participar do levante popular de Dresden (3 de maio de 1849). Por isso foi condenado à morte em Saxe, depois na Áustria, em 1850, sendo finalmente libertado pela Áustria durante o governo russo. Ele sofreu em seu país de origem um longo e duro cativeiro. Depois conseguiu fugir da Sibéria em 1861 e chegar a Londres. Foi após a revolta da Polônia contra o império czarista (1863-1864) e também sem dúvida em conseqüência de seus encontros com Proudhon, em Paris, em fins de 1864 – um Proudhon perto do fim -, que Bakunin tornou-se anarquista. Apresentamos aqui a biografia de Bakunin por James Guillaume apenas a partir deste novo rumo que tomou sua vida.
Bakunin, por James Guillaume*
James Guillaume
Depois de sua curta passagem por Paris durante a Revolução de 1848, Bakunin, eletrizado pelo exemplo que teve diante de si, foi participar do levante popular de Dresden (3 de maio de 1849). Por isso foi condenado à morte em Saxe, depois na Áustria, em 1850, sendo finalmente libertado pela Áustria durante o governo russo. Ele sofreu em seu país de origem um longo e duro cativeiro. Depois conseguiu fugir da Sibéria em 1861 e chegar a Londres. Foi após a revolta da Polônia contra o império czarista (1863-1864) e também sem dúvida em conseqüência de seus encontros com Proudhon, em Paris, em fins de 1864 – um Proudhon perto do fim -, que Bakunin tornou-se anarquista. Apresentamos aqui a biografia de Bakunin por James Guillaume apenas a partir deste novo rumo que tomou sua vida. (Daniel Guérin)
(…) Quando eclodiu, em 1863, a insurreição polonesa, Bakunin tentou unir-se aos homens de ação que a dirigiam, mas a organização de uma legião russa fracassou, a expedição de Lapinski não pôde chegar a um resultado e Bakunin, que fora a Estocolmo (onde sua mulher o encontrou) com a esperança de obter uma intervenção sueca, teve que voltar a Londres (outubro) sem ter tido sucesso em nenhuma das démarches. Voltou à Itália de onde partiu, em meados de 1864, para uma segunda viagem à Suécia, regressando por Londres, onde reviu Marx, e por Paris, onde reviu Proudhon.
Após a guerra de 1859 e da heróica expedição de Garibaldi, em 1860, a Itália acabava de nascer para uma nova vida: Bakunin permaneceu nesse país até o outono de 1867, detendo-se primeiramente em Florença, depois em Nápoles e nos arredores. Ele havia concebido o plano de uma organização internacional secreta de revolucionários, com vistas à propaganda, e, quando chegasse o momento, à ação, e a partir de 1864 conseguiu agrupar um certo número de italianos, franceses, escandinavos e eslavos nesta sociedade secreta que chamou de “Fraternidade Internacional” ou “Aliança dos Revolucionários Socialistas”.
Na Itália, Bakunin e seus amigos dedicaram-se sobretudo a lutar contra os mazzinianos (1), que eram republicanos autoritários e religiosos, tendo por divisa Dio e popolo. Um jornal, Libertá e Giustizia, foi fundado em Nápoles, no qual Bakunin desenvolveu seu programa. Em julho de 1886, anunciava a Herzen e a Ogareff (2) a existência da sociedade secreta à qual consagrava, havia dois anos, toda sua atividade, comunicando seu programa que, segundo ele próprio, escandalizou dois de seus antigos amigos. Neste momento, a organização na Noruega, na Dinamarca, na Inglaterra, na Bélgica, na França, na Espanha, na Itália e na Suécia possuía adeptos, segundo testemunho de Bakunin, contando também com poloneses e russos entre seus membros.
Em 1867, os democratas burgueses de diversas nações, principalmente franceses e alemães, fundaram a Liga da Paz e da Liberdade e convocaram, em Genebra, um congresso que teve ampla repercussão. Bakunin nutria ainda algumas ilusões em relação aos democratas: foi a este congresso onde pronunciou um discurso, tornou-se membro do comitê central da Liga, fixou residência na Suíça, perto de Vevey, e, durante o ano seguinte, esforçou-se em trazer seus colegas do comitê para o socialismo revolucionário. No segundo congresso da Liga, em Berna (setembro de 1868), fez, com alguns amigos, membros da organização secreta fundada em 1864, (…) uma tentativa de fazer votar na Liga resoluções francamente socialistas, mas, depois de vários dias de debates, os socialistas revolucionários, em minoria, declararam que se separariam da liga (25 de setembro de 1868), fundando, no mesmo dia, sob o nome de Aliança Internacional da Democracia Socialista, uma nova associação da qual Bakunin redigiu o programa.
Este programa, que resumia as concepções às quais seu autor havia chegado, ao fim de uma longa evolução começada na Alemanha em 1842, afirmava entre outras coisas: “A Aliança se declara atéia; ela quer a abolição definitiva e completa de classes e a igualdade política, econômica e social dos indivíduos de ambos os sexos; ela quer que a terra, os instrumentos de trabalho, bem como qualquer outro capital, tornando-se propriedade coletiva de toda a sociedade, possam ser utilizados somente pelos trabalhadores, isto é, pelas associações agrícolas e industriais. Ela reconhece que todos os Estados políticos autoritários atualmente existentes, restringindo-se cada vez mais a simples funções administrativas dos serviços públicos em seus países, deverão desaparecer na união universal das associações livres, tanto agrícolas como industriais”.
Constituindo-se, a Aliança Internacional da Democracia Socialista havia declarado seu desejo de tornar-se um ramo da Associação Internacional dos Trabalhadores, cujos estatutos gerais ela aceitaria.
Em 1º de setembro de 1868 surgira em Genebra o primeiro número de um jornal russo, Narodnoé Diélo, redigido por Michael Bakunin e Nicolas Jukovsky; ele continha um programa intitulado “Programa da democracia socialista russa”, idêntico quanto ao conteúdo ao programa adotado alguns dias mais tarde pela Aliança Internacional da Democracia Socialista. Mas, a partir de seu segundo número, o jornal mudou de redação, passando para as mãos de Nicolas Outine (3), que imprimiu-lhe uma direção totalmente diferente.
A Associação Internacional dos Trabalhadores havia sido fundada em Londres a 28 de setembro de 1864; mas sua organização definitiva e a adoção de seus estatutos dataram de seu primeiro congresso realizado em Genebra, de 3 a 8 de setembro de 1866.
Em sua passagem por Londres em outubro de 1864, Bakunin, que não revia Karl Marx desde 1848, recebeu sua visita: Marx vinha explicar-se com ele a respeito de uma calúnia (4), outrora acolhido pela Neue Rheinische Zeitung, que jornalistas alemães puseram em circulação em 1853. Mazzini e Herzen colocaram-se então em defesa do caluniado aprisionado em uma fortaleza russa. Marx, na ocasião, declarara ao jornal inglês Morning Advertiser que não acreditava nesta calúnia, acrescentando que Bakunin era seu amigo e isto ele repetiu-lhe.
Após esta conversa, Marx instou Bakunin a juntar-se à Internacional, mas este, uma vez de regresso à Itália, preferiu dedicar-se à organização secreta já mencionada; a Internacional, no início, era representada fora do Conselho Geral de Londres apenas por um grupo de operários mutualistas de Paris e nada levava a prever a importância que iria adquirir. Foi somente depois de seu segundo congresso em Lausanne (setembro de 1867), depois dos dois processos de Paris e da grande greve de Genebra (1868), que esta associação passou a chamar a atenção, tornando-se uma potência cujo papel de alavanca da ação revolucionária não podia mais ser desconsiderado. Em seu terceiro congresso em Bruxelas (setembro de 1868), as idéias coletivistas apareceram em oposição ao cooperativismo. Desde julho de 1868, Bakunin foi admitido como membro da seção de Genebra e, depois de sua saída da Liga da Paz no congresso de Berna, fixou-se em Genebra para poder engajar-se ativamente no movimento operário desta cidade.
Um vivo impulso foi dado em seguida à propaganda e à organização. Uma viagem do socialista italiano Fanelli (5) à Espanha teve por resultado a fundação das seções internacionais de Madri e de Barcelona. As seções da Suíça francesa uniram-se em uma federação que levou o nome de Federação Romanda (6) e teve como órgão o jornal Egalité, criado em janeiro de 1869. Foi travada uma luta contra os falsos socialistas que, no Jura suíço, infiltravam o movimento, terminando com a adesão da maioria dos operários jurassianos ao socialismo revolucionário. Várias vezes Bakunin foi ao Jura ajudar com sua palavra aqueles que lutavam contra o que ele chamava “a reação mascarada em cooperação”; isto originou a amizade que manteve com os militantes desta região. Em Genebra, um conflito entre os operários da construção, socialistas revolucionários por instinto, e os operários relojoeiros e joalheiros, ditos da “fábrica”, que queriam participar das lutas eleitorais e aliar-se aos políticos radicais, terminou, graças a Bakunin, que promoveu no Egalité uma enérgica campanha, expondo, em uma série de artigos notáveis, o programa da “política da Internacional”, pela vitória, infelizmente momentânea, do elemento revolucionário. As sessões da Internacional na França, na Bélgica e na Espanha seguiam de acordo com as da Suíça francesa e podia-se prever que no próximo congresso geral da Associação o coletivismo reuniria a grande maioria dos votos.
O Conselho Geral de Londres não quisera admitir a Aliança Internacional da Democracia Socialista como membro da Internacional, porque a nova sociedade constituiria um segundo corpo internacional e sua presença na Internacional seria motivo de desorganização. Uma das razões que determinaram esta decisão foi a malevolência de Marx em relação a Bakunin, em quem o ilustre comunista alemão acreditava ver um “intrigante” que queria “subverter a Internacional e transformá-la em seu instrumento”; mas, independentemente dos sentimentos pessoais de Marx, é certo que a idéia de criar, ao lado da Internacional, uma segunda organização era uma idéia desastrosa: era esta a opinião de amigos belgas e jurassianos de Bakunin que rendeu-se diante de seus argumentos e reconheceu a justeza da decisão do Conselho Geral. Conseqüentemente, o Bureau Central da Aliança, depois de ter consultado seus adeptos, determinou sua dissolução: o grupo local que havia se constituído em Genebra transformou-se em uma simples seção da Internacional sendo como tal admitido pelo Conselho Geral (julho de 1869).
No quarto Congresso Geral, em Bâle (6-12 de setembro de 1869), a quase unanimidade dos delegados da Internacional pronunciou-se pela propriedade coletiva, mas pôde constatar, então, que havia entre eles duas correntes distintas: uns, alemães, suíços-alemães e ingleses eram comunistas de Estado; os outros, belgas, suíços-franceses, espanhóis e quase todos os franceses eram comunistas antiautoritários, ou federalistas, ou anarquistas que tomaram o nome de coletivistas. Bakunin pertencia naturalmente a esta última facção, à qual pertenciam entre outros o belga De Paepe, e o parisiense Varlin (7).
(…) A organização secreta fundada em 1864 dissolveu-se em janeiro de 1869 após uma crise interna, mas vários de seus membros continuaram mantendo relações e, a este grupo íntimo, juntaram-se alguns novos recrutas, suíços, espanhóis e franceses, entre os quais Varlin. Este livre agrupamento de homens que se uniam pela ação coletiva em uma fraternidade revolucionária deveria, acredita-se, dar mais força e coesão ao grande movimento do qual a Internacional era a expressão.
No verão de 1869, um amigo de Marx reproduziu na Zukunft de Berlim a antiga calúnia de que “Bakunin era um agente do governo russo” e Liebknecht (8) repetiu esta afirmação em várias circunstâncias. Quando este último veio a Bâle por ocasião do Congresso, Bakunin convidou-o a explicar-se diante de um júri de honra. Nesta ocasião, o socialista saxão afirmou jamais ter acusado Bakunin e que se havia limitado a repetir coisas lidas nos jornais. Por unanimidade o júri declarou que Liebknecht agira com leviandade culposa e entregou a Bakunin uma declaração escrita e assinada por seus membros. Liebknecht, reconhecendo que fora induzido a erro, estendeu a Bakunin a mão que, diante de todos, queimou a declaração do júri com a qual acendeu o cigarro.
Depois do Congresso de Bâle, Bakunin deixou Genebra e retirou-se para Lucano (Tessin): tomou esta resolução por motivos de ordem estritamente pessoal, sendo um deles a necessidade de fixar-se em um lugar onde a vida fosse barata e onde pudesse dedicar-se inteiramente aos trabalhos de tradução que tencionava realizar para um editor de Petersburgo (tratava-se, em primeiro lugar, da tradução do primeiro volume do Capital de Marx, lançado em 1867). Entretanto, a partida de Bakunin de Genebra deixou, infelizmente, campo livre aos intrigantes políticos que, associando-se às manobras de um emigrado russo, Nicolas Outine, muito conhecido pelo triste papel que desempenhou na Internacional, não havendo, portanto, necessidade de caracterizá-lo aqui, conseguiram em alguns meses desorganizar a Internacional de Genebra, tomar o poder e apoderar-se da redação do Egalité.
Marx, que deixava-se cegar por rancores e ciúmes mesquinhos em relação a Bakunin, não se envergonhou em ter que rebaixar-se ao fazer aliança com Outine e o grupo de políticos pseudo-socialistas de Genebra, homens do Temple Unique (9), ao mesmo tempo que, por uma Comunicação Confidencial (28 de março de 1870) enviada a seus amigos da Alemanha, procurava denegrir Bakunin diante da opinião dos democratas socialistas alemães, representando-o como agente do Partido Pan-eslavista, do qual recebia, segundo Marx, vinte e cinco mil francos por ano.
As intrigas de Outine e seus correligionários genebrinos conseguiram provocar uma cisão na Federação Romanda, a qual separou-se (abril de 1870) em duas facções, uma das quais, de acordo com os internacionalistas da França, Bélgica e da Espanha, se havia pronunciado pela política revolucionária, declarando que “toda participação da classe operária na política burguesa governamental não poderá ter outros resultados que a consolidação da ordem de coisas existentes”; enquanto a outra facção “professava a intervenção política e as candidaturas operárias”. O Conselho Geral de Londres bem como os alemães e os suíços-alemães tomaram partido da segunda facção (de Outine e do Temple Unique), enquanto os franceses, os belgas e os espanhóis tomaram o partido da outra (facção do Jura).
Bakunin estava neste momento absorvido com as negociações russas. Já na primavera de 1869, iniciara relacionamento com Netchaïeff (10), acreditando na possibilidade de organizar na Rússia um amplo levante de camponeses (…). Foi quando ele escreveu em russo o apelo intitulado Algumas Palavras aos Jovens Irmãos da Rússia e a obra A Ciência e a Causa Revolucionária Atual. Netchaïeff voltara à Rússia, mas teve que fugir novamente, depois da prisão de quase todos os seus amigos e da destruição de sua organização, voltando para a Suíça em janeiro de 1870. Exigiu de Bakunin que abandonasse a tradução começada do Capital para dedicar-se inteiramente à propaganda revolucionária russa (…). Bakunin escreveu em russo o opúsculo Aos Oficiais do Exército Russo e, em francês, Os Ursos de Berna e Os Ursos de São Petersburgo, publicando também alguns números de uma nova série de Kolokol (11) e desenvolvendo durante alguns meses uma grande atividade. Contudo, acabou por perceber que Netchaïeff pretendia utilizá-lo como um simples instrumento, tendo recorrido, para garantir uma ditadura pessoal, a procedimentos jesuíticos: após uma explicação decisiva, que teve lugar em Genebra em julho de 1870, rompeu completamente com o jovem revolucionário. Ele foi vítima de sua grande confiança e da admiração que lhe havia inspirado a energia selvagem de Netchaïeff. “Não há nada a dizer”, escreve Bakunin a Ogareff depois deste rompimento, “passamos por idiotas. Como Herzen se divertiria com nós dois se estivesse lá e como ele estaria certado! Bem, só nos resta engolir esta pílula amarga que nos tornará mais prudentes de ora em diante” (2 de agosto de 1870).
Entretanto, a guerra entre a Alemanha e a França acabava de eclodir e Bakunin acompanhava os acontecimentos com apaixonado interesse. “És apenas russo, escreve a 11 de agosto a Ogareff, enquanto eu sou internacional.” A seus olhos, o esmagamento da França pela Alemanha feudal e militar era o triunfo da contra-revolução, e este esmagamento só poderia ser evitado pelo apelo ao povo francês para um levante em massa, para, ao mesmo tempo, repelir o invasor estrangeiro e livrar-se dos tiranos internos que o mantinham em regime de servidão econômica e política. Ele escreve a seus amigos socialistas de Lyon:
“O movimento patriótico de 1792 não é nada em comparação com o que vocês devem fazer agora, se quiserem salvar a França. Levantem, pois, amigos, ao som da Marselhesa que volta a ser hoje o canto legítimo da França, palpitante de atualidade, o canto da liberdade, o canto do povo, o canto da humanidade, pois a causa da França tornou-se enfim a causa da humanidade. Agindo patrioticamente, salvaremos a liberdade universal. Ah! Se eu fosse jovem, eu não escreveria cartas, eu estaria entre vocês.”
Um correspondente do Volkstaat (o jornal de Liebknecht) escrevera que os operários parisienses estavam “indiferentes à guerra atual”. Bakunin fica indignado com o fato que se possa pensar numa apatia que seria criminosa; escreve para mostrar-lhes que não podem desinteressar-se pela invasão alemã, que devem a qualquer preço defender sua liberdade contra os bandos armados do despotismo prussiano:
“Ah! Se a França tivesse sido invadida por um exército de proletários alemães, ingleses, belgas, italianos, espanhóis levando a bandeira do socialismo revolucionário e anunciando ao mundo a emancipação final do trabalho, eu teria sido o primeiro a gritar aos operários da França: ‘Abram-lhes os braços, são vossos irmãos e uni-vos a eles para varrer os restos apodrecidos do mundo burguês!’ Mas a invasão que desonra a França hoje é uma invasão aristocrática, monárquica e militar. Permanecendo passivos diante desta invasão, os operários franceses não trairiam apenas sua própria liberdade, trairiam também a causa do proletariado do mundo inteiro, a causa sagrada do socialismo revolucionário.” As idéias de Bakunin sobre a situação e sobre os meios a serem empregados para salvar a França e a causa da liberdade foram expostos por ele num curto ensaio publicado sem nome do autor, sob o título de Cartas a um Francês sobre a Crise Atual.
Em 9 de setembro de 1870, deixou Lucarno, dirigindo-se a Lyon onde chegou dia 15. Um “Comitê de Salvação da França”, do qual foi o membro mais ativo e mais aguerrido, organizou-se para tentar um levante revolucionário. O programa deste movimento foi publicado em 26 de setembro em um cartaz vermelho que trazia a assinatura dos delegados de Lyon, Saint Etiènne, Tarare e Marselha. Bakunin, embora estrangeiro, não hesitou em unir sua assinatura a de seus amigos, a fim de dividir seus perigos e sua responsabilidade. O cartaz, depois de ter declarado que “a máquina administrativa e governamental do Estado, tornado impotente, estava abolida” e que “o povo da França entrava em plena posse de si mesmo”, propunha a formação, em todas as comunas federadas, de comitês de salvação da França e o envio imediato a Lyon de dois delegados de cada comitê de capital, de departamento “para formar a Convenção revolucionária de salvação da França”. Um movimento popular, em 28 de setembro, colocou os revolucionários na posse da prefeitura de Lyon, mas a traição do general Clouseret, a covardia de alguns nos quais o povo havia depositado sua confiança tornaram esta tentativa fracassada. Bakunin, contra quem o procurador da República, Andrieux, havia dado um mandado de prisão, conseguiu chegar a Marselha, onde permaneceu algum tempo escondido, tentando preparar um novo movimento; durante este tempo as autoridades francesas fizeram correr o boato de que ele era um agente pago da Prússia e que o governo da Defesa Nacional tinha provas. Por seu turno o Volkstaat, de Liebknecht, imprimia estas linhas a propósito do movimento de 28 de setembro e do programa do cartaz vermelho: “Não se poderia ter agido melhor no escritório de imprensa, em Berlim, para servir aos desejos de Bismarck”.
Em 24 de outubro, desesperançoso com a França, Bakunin partiu de Marselha, a bordo de um navio cujo capitão era amigo de seus amigos, para regressar a Lucarno por Gênova e Milão. Na véspera, ele escrevia a um socialista espanhol, Sentiñon, que viera à França com a esperança de envolver-se no movimento revolucionário:
“O povo francês não é mais revolucionário. O militarismo e a burocracia, a arrogância nobiliárquica e o jesuitismo protestante dos prussianos, aliados ao knout do meu caro soberano e senhor, o imperador de todas as Rússias, vão triunfar sobre o continente da Europa, Deus sabe durante quantas dezenas de anos. Adeus aos nossos sonhos de emancipação próxima.”
O movimento que eclodiu em Marselha, a 31 de outubro, sete dias depois da partida de Bakunin, apenas confirmou seu julgamento pessimista: a Comuna revolucionária que se instalara na prefeitura, diante da notícia da capitulação de Bazine, manteve-se apenas por cinco dias e abdicou em 14 de novembro entre as mãos do comissário Alphonse Gent, enviado de Gambetta.
De volta a Lucarno, onde passou solitário todo o inverno, envolto pela aflição material e a miséria negra, Bakunin escreveu, como continuação às Cartas a um Francês, uma exposição sobre a nova situação da Europa, que foi publicada na primavera de 1871 com este título característico: O Império Knouto-germânico e a Revolução Social. A notícia da insurreição parisiense de 18 de março veio desmentir em parte seus sombrios prognósticos, mostrando que o proletariado parisiense havia conservado, ao menos, sua energia e seu espírito de revolta. Mas o heroísmo do povo de Paris seria impotente para galvanizar a França esgotada e vencida; as tentativas feitas em vários locais do interior para generalizar o movimento comunalista fracassaram, os corajosos parisienses inssurectos foram finalmente esmagados pelo número e Bakunin, que se juntara (27 de abril) a seus amigos do Jura para estar mais próximo à fronteira francesa, foi obrigado a retornar a Lucarno sem ter podido agir (1º de junho).
Entretanto, desta vez ele não se deixou desencorajar. A Comuna de Paris, objeto de ódios furiosos de todas as reações coligadas, acendera no coração dos explorados uma centelha de esperança (12); o proletariado universal saudava, no povo heróico cujo sangue acabava de correr pela emancipação humana, “o Satã moderno, o grande revoltado vencido, mas não pacificado”, de acordo com a expressão de Bakunin. O patriota italiano Mazzini havia somado sua voz às daqueles que maldiziam Paris e a Internacional; Bakunin escreveu a Resposta de um Internacional a Mazzini, publicado ao mesmo tempo em italiano e em francês (agosto de 1871). Este trabalho obteve imensa repercussão na Itália e produziu entre a juventude e os operários deste país um movimento de opinião que deu origem, antes do fim de 1871, a numerosas seções da Internacional. Uma segunda obra, A Teologia Política de Mazzini e a Internacional, completou a tarefa iniciada e Bakunin, que, com o envio de Fanelli à Espanha em 1868, fora o criador da Internacional espanhola, foi, pela polêmica contra Mazzini em 1871, o criador da Internacional italiana que iria lançar-se com tanto ardor na luta, não apenas contra a dominação da burguesia sobre o proletariado, como também contra a tentativa dos homens que quiseram, neste momento, instaurar o princípio da autoridade na Associação Internacional de Trabalhadores.
A cisão na Federação Romanda, que poderia ter terminado por uma reconciliação se o Conselho Geral de Londres assim o desejasse, agravou-se, tornando-se irremediável. Em agosto de 1870, Bakunin e três de seus amigos haviam sido expulsos da seção de Genebra porque manifestaram sua simpatia pelos jurassianos. Logo após o fim da guerra de 1870-71, agentes de Marx vieram a Genebra para reavivar discórdias; os membros da seção da Aliança acreditaram dar uma prova de suas intenções pacíficas dissolvendo sua seção. O partido de Marx e de Outine, contudo, não se desarmou: uma nova seção, de propaganda e de ação revolucionária socialista, constituída em Genebra pelos refugiados da Comuna, e na qual entraram os antigos membros da seção da Aliança, teve sua admissão recusada pelo Conselho Geral. Em vez de um congresso geral da Internacional, o Conselho Geral, dirigido por Marx e seu amigo Engels, convocou em Londres, em setembro de 1871, uma conferência secreta, composta quase que exclusivamente por partidários de Marx, por quem foi conduzida a tomar medidas que destruíam a autonomia das seções e federações da Internacional, concedendo ao Conselho Geral uma autoridade contrária aos estatutos fundamentais da Associação. A Conferência pretendeu, ao mesmo tempo, organizar, sob a direção deste Conselho, o que ela chamava “ação política da classe trabalhadora”.
Havia urgência em não deixar absorver a Internacional, vasta federação de agrupamentos organizados para lutar no plano econômico contra a exploração capitalista, por um grupo insignificante de sectários marxistas e blanquistas. As seções do Jura, unidas à seção de propaganda de Genebra, se constituíram a 12 de novembro de 1871, em Sonvilier, em uma Federação Jurassiana, e dirigiram a todas as Federações da Internacional uma circular convidando-as a unirem-se a ela para resistir às usurpações do Conselho Geral e reivindicar energicamente sua autonomia.
“A sociedade futura”, dizia a circular, “será a universalização da organização que a Internacional apresentar. Devemos, pois, ter o cuidado de aproximar o mais possível esta organização de nosso ideal. Como poderá uma sociedade igualitária e livre surgir de uma organização autoritária? É impossível. A Internacional, embrião da futura sociedade humana, deve ser, desde agora, a imagem fiel de nossos princípios de liberdade e de federação e repelir de seu seio qualquer princípio que tenda para o autoritarismo e a ditadura.”
Bakunin acolheu com entusiasmo a circular de Sonvilier e dedicou-se inteiramente a propagar seus princípios nas seções italianas. A Espanha, a Bélgica, a maior parte das seções reorganizadas na França, apesar da reação de Versailles, sob a forma de grupos secretos, e a maioria das seções dos Estados Unidos se pronunciaram do mesmo modo que a Federação Jurassiana, o que nos assegurou logo de que a tentativa de Marx e seus aliados de estabelecer sua dominação na Internacional seria frustrada.
A primeira metade de 1872 foi marcada por uma “Circular Confidencial” do Conselho Geral, obra de Marx, impressa em uma brochura intitulada As Pretensas Cisões na Internacional, onde os principais militantes do partido autonomista ou federalista foram atacados pessoalmente e difamados. Os protestos que se levantaram de toda parte contra certos atos do Conselho Geral foram representados como resultado de uma intriga urdida pelos membros da antiga Aliança Internacional da Democracia Socialista que, sob a direção do “papa misterioso de Lucarno”, trabalhavam para a destruição da Internacional. Bakunin qualificou esta circular como ela o merecia, escrevendo a seus amigos: “A espada de Dâmocles, com a qual nos ameaçaram durante tanto tempo, acaba de cair sobre nossas cabeças. Não é propriamente uma espada a arma habitual de Marx, mas um monte de sujeira”.
Bakunin passou o verão e o outono de 1872 em Zurique, onde fundou-se (agosto), por sua iniciativa, uma seção eslava formada quase que exclusivamente por estudantes russos e sérvios, a qual aderiu à Federação Jurassiana da Internacional. A partir de abril, a de Lucarno passou a relacionar-se com alguns jovens russos residentes na Suíça, organizando-os em um grupo secreto de ação e de propaganda. (…) Um conflito com Pierre Lavroff (13) e desentendimentos pessoais entre alguns membros determinariam a dissolução da seção eslava de Zurique em 1873.
Entretanto, o Conselho Geral decidira convocar um congresso geral para 2 de setembro de 1872, escolhendo Haia para sede deste congresso a fim de poder mais facilmente trazer de Londres, em grande número, delegados com mandatos fictícios, e inteiramente dedicados à sua política, e de tornar mais difícil o acesso dos delegados das federações afastadas, principalmente para Bakunin, para quem seria impossível a vinda.
A Federação Italiana, totalmente renovada, absteve-se de enviar delegados; a Federação Espanhola enviou quatro, a Jurassiana, dois, a Belga, sete, a Holandesa, quatro, e a Inglesa, cinco; estes vinte e dois delegados, únicos verdadeiros representantes da Internacional, formaram o núcleo da minoria. A maioria, somando quarenta homens, representando, em realidade, sua própria pessoa, havia decidido anteriormente executar tudo o que lhe fosse ditado pelo grupo chefiado por Marx e Engels. O único ato do Congresso de Haia que destacamos aqui foi a expulsão de Bakunin, determinada no último dia (7 de setembro), quando um terço dos delegados já havia partido, por vinte e sete votos a favor, sete contra e oito abstenções. Os motivos alegados por Marx e seus partidários para pedir, após uma enquete simulada feita a portas fechadas por uma comissão de cinco membros, a expulsão de Bakunin, eram os seguintes:
“Está provado, por um projeto de estatutos e por cartas assinadas por Bakunin, que este cidadão tentou e conseguiu fundar, na Europa, uma sociedade chamada Aliança, com estatutos completamente diferentes, do ponto de vista social e político, dos da Associação Internacional de Trabalhadores; que o cidadão Bakunin serviu-se de manobras inescrupulosas para apropriar-se da fortuna de terceiros, fato que constitui-se em fraude e que, além disto, impedido de cumprir seus compromissos, ele ou seus agentes recorreram à intimidação.”
É esta segunda parte do ato de acusação marxista, aludindo aos trezentos rublos recebidos antecipadamente por Bakunin pela tradução do Capital e à carta escrita por Netchaïeff ao editor Poliakof, que qualifiquei, anteriormente, como tentativa de assassinato moral.
Contra esta infâmia, foi logo publicado um protesto, por um grupo de emigrados russos, do qual destacamos as principais passagens:
“Genebra e Zurique, 4 de outubro de 1872. Ousaram lançar contra nosso amigo Bakunin a acusação de fraude e chantagem. Não acreditamos ser nem necessário nem oportuno discutir os pretensos fatos sobre os quais se apoiou a estranha acusação lançada contra nosso compatriota e amigo. Conhecemos bem esses fatos, nos mínimos detalhes, sendo nosso dever restabelecê-los à luz da verdade assim que nos seja permitido fazê-lo. Agora estamos impedidos pela infeliz situação de um outro compatriota que não é nosso amigo, mas que, devido às perseguições por parte do governo russo de que é vítima atualmente, o tornam sagrado (14). O Senhor Marx, cuja habilidade não queremos contestar, neste momento, ao menos, calculou muito mal. Os corações honestos, em todos os países, sentirão indignação e desgosto diante de uma intriga tão grosseira e de uma violação tão flagrante dos princípios mais comezinhos de justiça. Quanto à Rússia, podemos garantir ao Sr. Marx que todas as suas manobras serão pura perda de tempo: Bakunin é, neste país, muito estimado e conhecido para que a calúnia possa o atingir…” (Seguiam-se oito assinaturas.)
No dia seguinte ao Congresso de Haia, um outro congresso internacional reuniu-se em Saint-Imier (Jura suíço), a 15 de setembro: constituíram-no delegados das federações Italiana, Espanhola e Jurassiana e representantes de seções francesas e americanas. Este Congresso declarou, por unanimidade, “repelir energicamente todas as resoluções do Congresso de Haia, e não reconhecer de modo algum os poderes do novo Conselho Geral, por ele nomeado”; o Conselho estava sediado em Nova Iorque.
A Federação Italiana confirmara, antecipadamente, as resoluções de Saint-Imier, por votos obtidos na Conferência de Rimini em 4 de agosto; a Federação Jurassiana confirmou-os num congresso especial realizado em 15 de setembro; a maioria das seções francesas apressou-se em enviar sua inteira aprovação; a Federação Espanhola e a Federação Belga confirmaram por sua vez estas resoluções em seus congressos realizados em Córdoba e em Bruxelas durante a semana de Natal de 1872; a Federação Americana agiu da mesma forma na sessão de seu Conselho Federal (Nova Iorque, Spring Street) de 19 de janeiro de 1873, assim como a Federação Inglesa, onde havia dois antigos amigos de Marx, Eccarius e Jung (15), do qual se haviam separado em virtude de seus procedimentos (16), em seu congresso de 26 de janeiro de 1873.
O Conselho Geral de Nova Iorque, querendo fazer uso de poderes que lhe tinham sido concedidos no Congresso de Haia, pronunciou em 5 de janeiro de 1873 a “suspensão” da Federação Jurassiana, declarada rebelde, tendo este ato como único resultado o fato da Federação Holandesa que, no início, preferira manter-se neutra, saísse de sua reserva e se unisse às sete outras federações da Internacional, declarando, a 14 de fevereiro de 1873, não reconhecer a suspensão da Federação Jurassiana.
A publicação, por Marx e o pequeno grupo que lhe permaneceu fiel, na segunda metade de 1873, de um panfleto contendo as mais grosseiras alterações da verdade, intitulado A Aliança da Democracia Socialista e a Associação Internacional dos Trabalhadores, não surtiu outros efeitos que o de provocar o desprezo dos que leram este triste produto de um ódio cego.
Em 1º de setembro de 1873 abria-se em Genebra o Sexto Congresso Geral da Internacional: as Federações da Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, França, Inglaterra e Jura suíço estavam representadas; os socialistas lassalianos de Berlim enviaram uma moção de simpatia assinada por Hasenclever e Hasselmann. O congresso tratou da revisão dos estatutos da Internacional, declarou a supressão do Conselho Geral, tornando a Internacional uma federação livre, sem autoridade dirigente de nenhuma espécie:
“As Federações e Seções que compõem a Associação, rezam os novos estatutos (artigo 3), conservam sua completa autonomia, isto é, o direito de organizarem-se conforme sua vontade, de administrarem seus próprios negócios sem nenhuma ingerência e de determinarem o caminho que pretendem seguir para chegar à emancipação do trabalho”.
Bakunin estava fatigado de uma longa vida de lutas: a prisão o envelhecera prematuramente, sua saúde estava seriamente abalada e ele só desejava agora o repouso e a aposentadoria. Quando viu a Internacional reorganizada pelo triunfo do princípio da federação livre, pensou que chegara o momento em que poderia afastar-se de seus companheiros e dirigiu aos membros da Federação Jurassiana uma carta (publicada em 12 de outubro de 1873) pedindo-lhes que aceitassem sua demissão como membro da Federação Jurassiana e da Internacional, acrescentando: “Não me sinto mais com as forças necessárias para a luta: seria, pois, no campo do proletariado, um estorvo, não uma ajuda. Retiro-me, portanto, caros companheiros, cheio de reconhecimento e de simpatia por esta grande e santa causa, a causa da humanidade… Continuarei seguindo com ansiedade fraterna todos os vossos passos e saudarei com alegria cada um dos vossos novos triunfos. Até a morte serei vosso”.
Ele teria apenas mais três anos de vida.
Seu amigo, o revolucionário italiano Carlo Cafiero (17), hospedou-o em uma vila que acabara de comprar perto de Lucarno. Lá, Bakunin viveu até meados de 1874, exclusivamente absorvido, segundo consta, por este novo gênero de vida, no qual encontrava finalmente a tranqüilidade, a segurança e um bem-estar relativo. Entretanto, ele não cessara de considerar-se um soldado da Revolução; seus amigos italianos tinham preparado um movimento subversivo. Regressou a Bolonha (julho de 1874) para tomar parte do movimento que, mal organizado, abortou e Bakunin teve que voltar à Suíça disfarçado.
(…) Bakunin era, em 1875, apenas uma sombra dele mesmo. Em junho de 1876, na esperança de encontrar algum conforto para seus males, deixou Lucarno para ir a Berna, onde chegou no dia 14 de junho. Disse a seu amigo, doutor Adolf Vogt: “Venho aqui para que me cures ou para morrer”. (…) Expirou no dia 1º de julho, ao meio-dia.
Notas:
* GUILLAUME, James (1884-1916) – Guillaume passou a interessar-se pelo anarquismo quando ainda estudante em Zurique e, mais tarde, quando trabalhava como tipógrafo em Neuchâtel, tornou-se um dos membros mais importantes da Federação do Jura da Primeira Internacional. Adotando as crenças anarquistas, ligou-se a Bakunin, sendo também expulso da Internacional durante o Congresso de Haia em 1872. Participou ativamente da fundação da Internacional de St. Imier e teve um papel decisivo na conversão de Kropotkin ao anarquismo, trabalhando com ele como agitador anarquista na Suíça. A partir de 1880, Guillaume afastou-se do anarquismo participante, voltando à ativa vinte anos depois, quando se integrou ao movimento anarco-sindicalista. Os quatro volumes que publicou durante esse período – L’International: documents et souvenirs – são a mais importante fonte de informações sobre a Internacional considerada sob o ponto de vista do anarquismo.
(1) Mazzinianos, discípulos de Mazzini (1805-1872), conspirador republicano italiano, um dos artífices da unificação da Itália. (Nota de Daniel Guérin.)
(2) Nicolas Ogareff (1813-1877), poeta russo, co-editor com Alexandre Herzen do diário Kolokol (“O Sino”), em Londres, correspondente de Bakunin. (Nota de Daniel Guérin.)
(3) Nicolas Outine (1845-1883), emigrado russo vivendo na Suíça, marxista, participou do Congresso da Liga da Paz e da Liberdade, em Berna, em 1868, e da conferência de Londres da Internacional, em 1871; redator do jornal A Igualdade, em Genebra, em 1870-1871. (Nota de Daniel Guérin.)
(4) Calúnia segundo a qual o revolucionário Bakunin teria sido um agente secreto do governo russo, como será descrito, mais adiante. (Nota de Daniel Guérin.)
(5) Giuseppe Fanelli (1827-1877), primeiramente republicano italiano com Mazzini e Garibaldi; rompeu com o primeiro por não partilhar do centralismo estatista; torna-se colaborador e amigo de Bakunin a partir de 1864, que o enviou, em outubro de 1868, para a Espanha para criar uma seção ao mesmo tempo da Internacional e de sua Aliança Internacional da Democracia Socialista, ainda que Fanelli não falasse espanhol. (Nota de Daniel Guérin.)
(6) Romande: Suíça francesa. (N. do T.)
(7) Eugênio Varlim (1839-1871), internacionalista e partidário da Comuna de Paris, fuzilado na rua des Rosiers, em 28 de maio de 1871, pela contra-revolução versalhense. (Nota de Daniel Guérin.)
(8) Wilhelm Liebknecht (1826-1900), introdutor do marxismo na Alemanha, fundador da social-democracia no congresso de Elsenach (1869). (Nota de Daniel Guérin.)
(9) Era o nome do local onde se reunia então a Internacional Genebrina, antigo templo maçônico. (Nota de James Guillaume.)
(10) Serge Netchaïeff (1847-1882): jovem revolucionário russo, encontrou, seduziu e influenciou Bakunin na Suíça, fazendo-o partilhar, por algum tempo, de suas idéias terroristas e nihilistas; extraditado, morreu na prisão na Rússia depois de longo calvário. (Nota de Daniel Guérin.)
(11) O diário Kolokol (“O Sino”) era publicado no Ocidente pelo revolucionário russo Alexandre Herzen (1812-1870). (Nota de Daniel Guérin.)
(12) Escrito de Bakunin sobre a Comuna de Paris. (Nota de Daniel Guérin.)
(13) Pierre Lavroff (1823-1900), professor de matemática, tornou-se revolucionário; evadido da Sibéria, veio a Paris e simpatizou com a Comuna; após foi à Suíça, depois a Londres, voltando finalmente a Paris onde morreu. (Nota de Daniel Guérin.)
(14) Netchaïeff acabava de ser preso em Zurich a 14 de agosto de 1872; foi entregue pela Suíça à Rússia em 27 de outubro de 1872. (Nota de James Guillaume.)
(15) Jean-Georges Eccarius (1818-1889), operário alfaiate alemão, membro da Liga dos Comunistas, depois, a partir de 1864, em Londres, da Internacional, secretário do Conselho Geral de 1867 a 1871; rompeu com Marx no momento da cisão de Haia, em 1872, e, ainda que não fosse anarquista, uniu-se à Internacional “antiautoritária”. Hermann Jung (1805-1870), relojoeiro suíço estabelecido em Londres, amigo de Marx, tesoureiro do Conselho Geral da Internacional. (Nota de Daniel Guérin.)
(16) Os blanquistas separaram-se de Marx a partir de 6 de setembro, no Congresso de Haia, acusando-o de tê-los traído. (Nota de James Guillaume.)
(17) Carlo Cafiero (1816-1892), anarquista italiano, inicialmente amigo de Marx, depois discípulo de Bakunin, enfim comunista libertário com Kropotkin, Elisée Reclus etc. (Nota de Daniel Guérin.)
Fonte: http://www.pfilosofia.xpg.com.br/. Bakunin, Michael Alexandrovich. Textos Anarquistas (Col. L&PM Pocket); seleção e notas de Daniel Guérin; tradução de Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 1999. 196p.
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